Certa vez, uma menina disse a um menino que
acreditava no amor dos dois porque sabia que a felicidade dela estava
nele. Não cobrava, nem ao menos, que ele a amasse de volta na mesma
proporção, mas que fosse apenas sincero. Então, o menino, aproveitando
de toda confiança que tinha, nunca mais tentou demonstrar o quanto que
gostava dela. Foi deixando que a relação esfriasse, que o tempo
acalmasse os dois, e a dúvida se instalasse na cabeça dela. Apesar de
ama-lo, será que a recíproca existia? Um dia, cansada, ela não aguentou e
disparou poucas e boas contra ele. Atônito, a primeira reação dele foi
calar. O que dizer contra argumentos que para ela eram mais que
verdadeiros? A certeza com que disse aquilo tudo não poderia ser
demovida em minutos. Resolveu esperar. A deixou esperando mais um pouco.
Quando certa de que ele não valia mais a pena na vida dela, eis que
surge, em pé na sua porta, o amado. Não trazia um buquê de flores de
desculpas, não carregava um anel de consolo, nem ao menos trazia uma
carta. Nos seus olhos, além do brilho que lhe faltou durante um tempo, a
menina enxergou verdade. Uma pequena dobradura que tirou do bolso, um
origami em forma de coração, foi o jeito que encontrou de condensar seu
amor e colocá-lo para fora. Não adiantaria falar. Nem demonstrar de
maneira clichê. No simbólico gesto de entrega, não precisou nem ao menos
repetir o "eu te amo" escrito no papel. Ela o abraçou e deu um beijo.
Se aquele era o recomeço deles, pelo menos era com um belo pé direito.
Ele reconheceu os erros, ela confessou a saudade, e os dois voltaram a
se amar com vontade.
Gustavo Lacombe
Gustavo Lacombe
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