“Você tá fria”.

Ele me diz isso colocando a mão em mim como quem estica o pé para saber a temperatura da água numa piscina. Deixo meu olhar responder que isso depende. Tem dias que congelo, tem dias que entro em ebulição. Tudo depende da vontade da pessoa em se molhar.

Ele continuava com o pé esticado.

Não sei porque ainda ficar esperando, mas entendo que o tempo de cada um é diferente do meu. É diferente do tempo do Universo. Há quem viva a urgência de arrancar a roupa e se jogar assim que encontra um lugar para nadar. Há quem nem tire a roupa. Há quem cerque, olhe e não se decida. Feito uma criança se perguntando se é raso ou não, ele ainda não decifrou o que fazer. Ou o que vai encontrar.

Turva água. Assim como a temperatura pode não ser lá tão convidativa, nem sempre sou tão clara. Quando não quero me deixar notar, me deixar ver, escondo-me num fosco que não contará se dou pé ou se possivelmente afogo. A essa altura, ele já deveria saber que a fundura depende do quanto ele quer mergulhar.

Lembro de um cachorro que certa vez eu tive. Toda vez que eu pulava na água, ele vinha atrás. Nadava comigo, brincava e, enquanto eu estivesse por ali, também ficava. Companheiro de natação recreativa. Durante todo o tempo que pôde, ele não hesitava e vinha comigo. Nunca o vi perdendo tempo com rodeios e questionamentos de “pulo ou não pulo”.

Ele sabia o que queria.

Não me pergunte o porquê da comparação. Só me fez lembrar. Não me pergunte a razão de esperar. Só sei que espero. Não me pergunte se eu realmente estou fria. Só estou reagindo ao meio. Pode ser a expectativa do salto e a vontade de saber a temperatura dele. Nisso tudo, o problema pode ser meu.

Sem temperatura ideal para um só banho.

(Gustavo Lacombe)