O que restou da gente?, comecei me perguntando. Dos encontros que podíamos ter, já não temos. Das conversas em que ouvia sua voz assim que ligava, agora só com hora marcada. Dos nossos papos mais ardentes, agora só tenho um relatório de com…o foi seu dia e você descobre como foi o meu pelas palavras automáticas e conhecidas que voam pela tela do computador disputando espaço com outras coisas mais piscantes. Essa distância é uma merda. Claro que confio o suficiente para saber que você está aproveitando. Confio no seu gostar de viver a vida. Se vai me contar o que faz ou não é problema seu e da sua consciência. Afinal, eu daqui pretendo não te contar todas as vezes que chorei por sua causa. Nem mesmo se no meio desse e-mail eu parar de escrever só pra ir ao banheiro. Pior é quando chega a madrugada. Na calada da noite, saudade invade meu quarto pela fresta da porta que está trancada. Puxa o lençol, se deita do meu lado e eu posso ver os olhos grandes com o sorriso amarelo de quem sabe que vai me deixar acordado até de manhã. Queria te escrever, mas não devo. Queria te gritar, mas não ouviria por motivos óbvios. Queria te ligar, mas nem isso mais eu posso. Nem ter o direito de te perturbar eu tenho. Sou uma insone sentimental sentada à mesa do computador com um copo de qualquer suco que tenha na geladeira e medindo as palavras numa mensagem que não vai dizer metade do que eu quero. E que eu mal sei se vai ler. É capaz de ver meu nome no remetente e descartar. Chegar até aqui será um luxo que eu vou deixar minha imaginação se permitir. 
O que a gente tem, então? Não sei, mas acho que está sobrando uma coisinha que a gente chama de amor. Aliás, eu chamo de amor. Você fala que é um incômodo porque não te deixa viver melhor o que quer aí. Bom, se ainda resta um sentimento, eu vou lutar. Não por você, que parece não merecer metade do que eu sinto, mas porque eu não escolhi gostar. Gosto, admito, sinto, e por mais que a razão diga que não deveria, eu ainda te quero. 

Temos tempo e amor. Acredite, ainda temos tudo.