Houve época em que acreditei que a pior característica de um ser
humano fosse a covardia. Digo houve época, não porque desconsidero a
covardia como uma característica deplorável, mas porque creio hoje que
na verdade o pior que alguém pode ser não é apenas ser covarde, mas sim
se manter confortável em sua covardia.
O pior covarde é aquele que admite e aceita sua condição. Porque o é
duas vezes. Uma por simplesmente ser e outra por achar que pelo fato de
estar admitindo, possui alguma licença ou desculpa para continuar sendo.
Pior do que ser covarde, é ser duplamente covarde.
A covardia vai além do medo, porque até para sentir medo é preciso
coragem. A covardia é a cegueira de um orgulho ignorante, é quando o ego
pesa, mas a consciência não. É acima de todas as definições a pior face
do egoísmo.
É difícil ter a vida invadida por um covarde, é difícil porque por
mais que a sua bravura seja enorme, ela nunca será suficiente para
conseguir amenizar a covardia do outro, e então o covarde fere a si
mesmo, fere seus ideais e por fim fere a todos que o cercam. E não é
apenas uma condição de personalidade, a covardia é uma falha no caráter.
E diferente da ignorância e talvez da pobreza, dignas de pena e
lamentação, por serem impostas, a covardia é uma escolha e como tal é
feita sob total consciência. Um covarde tem total ciencia de sua
covardia.
O covarde prefere beber ácido sulfúrico no café da manha do que pedir
desculpas pelos seus próprios erros. O ácido é mais fácil de digerir.
Corra Mary
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